Gestão & Poder, uma Alquimia Explosiva

O que faz de um gestor um profissional competente? O poder é uma ferramenta ou um veneno? Quer testar a competência de um gestor? Tire o seu poder e veja o que acontece! 

Durante muitas e muitas décadas, a gestão esteve associada ao poder. Esse binômio inseparável praticamente escreveu a história da administração moderna, fazendo a figura do gestor ir de herói a demônio em sucessivos ciclos dentro da organização.

Mas, será que em pleno século 21, esse binômio realmente precisa ser inseparável? Até que ponto o poder representa uma das ferramentas da gestão e da liderança? Nas organizações, de um modo geral, cansamos de presenciar verdadeiras catástrofes quando uma empresa promove um excelente técnico ao cargo de supervisor, coordenador, gerente e até de diretor, como se o notório desempenho em suas funções técnicas fossem credenciais para que este profissional assumisse o desafiador cargo de gestão.

E qual a primeira coisa que se passa na cabeça deste estreante na carreira de gestor assim que assume seu cargo? Via de regra, surge o seguinte drama: como encarar meus colegas de trabalho, que agora se tornaram meus liderados (ou subalternos)? De que maneira posso provar ao meu superior que sou, de fato um bom gestor?

A partir dessas indagações começam a aparecer as anomalias no processo de formação do gestor “trainee”. Vamos entender alguns exemplos disto?

1) O poder pela força do cargo: “Hei, você acaba de chegar 7 minutos e meio atrasado em seu expediente” – aponta o novo líder – “E você, quem pensa que é? Só porque foi promovido já está se achando?” – retruca seu ex-colega de trabalho, e agora, liderado.

2) O poder que vem de baixo: “Chefinho, olha só o que eu acabei de fazer!” – anuncia, um de seus liderados, uma descoberta que vai melhorar seu processo de trabalho em mais de 50% em termos de eficiência – “Bom trabalho, mas isso aí eu já consigo fazer hoje, procure focar no seu trabalho e deixe de bancar o herói, pois inovação e melhorias no processo é aqui com seu gestor, entendeu?” – responde o inexperiente gestor, que teme o surgimento de novas estrelas em sua pequena constelação de talentos.

3) O poder que ofusca as estrelas: “Senhor, olha só o que eu fiz! Consegui melhorar nosso processo em mais de 50% em termos de eficiência” – anuncia o estreante gerente ao seu gestor imediato, assumindo os créditos de quem realmente inovou dentro da organização.

Algumas dessas três situações já aconteceu com você? De que lado da mesa? Pois bem, acabamos de citar apenas alguns dos exemplos de como o “poder” pode ser um veneno na intrincada alquimia da gestão. Mas, e se não existisse poder na relação de liderança? Parece loucura falar sobre isto? Então por que os melhores gestores do mercado são aqueles que praticamente não fazem uso do poder para fazer seu time produzir? Os grandes gurus da administração sequer alteram sua voz ao intervir em árduos conflitos. Eles mandam pedindo, ao invés de pedirem mandando. E se você já está meio confuso com esses questionamentos, prepare-se para mais estes:

a) Por que um gestor tem que ganhar mais que seus liderados? Não é isto que verificamos no competitivo e dinâmico mundo do futebol. Afinal, quem ganha mais, o Neymar ou o Tite?

b) Por que bons técnicos sonham tanto em se tornarem gestores? Vocação? Dinheiro? Poder? Será que as empresas não poderiam oferecer planos de carreira que desvinculassem a ascenção funcional das funções gerenciais?

c) Se todos os bons técnicos estão condenados a se tornarem gestores para assumir funções gerenciais e progredirem em suas carreiras, para que serviriam os administradores de carreira? Estariam os cursos de bacharelado em administração sentenciados a desaparecer? Ou será que as organizações irão investir cada vez mais nesses profissionais, subtraindo-lhes o poder para de fato exercerem a mais pura essência da gestão que motiva, eleva e faz brilharem todas as estrelas de sua constelação?

Se você está pensativo, então fique mais ainda. Imagine uma empresa onde não existam pirâmides gerenciais. Empresas onde as pessoas sejam felizes com o que fazem e, ao invés de sonharem em ocupar cargos gerenciais para progredirem materialmente em suas vidas, elas possam investir cada vez mais no conhecimento técnico-científico do que fazem, e, o que é mais importante, possam ganhar cada vez mais dinheiro com isto! Profissionais autogerenciáveis, que necessitam, de seu gestor, apenas de direcionamento, treinamento e acompanhamento. Sem ordens. Sem imposições. Apenas motivação e suporte! Será este o administrador do futuro?

O que você acha? Quero ouvir sua opinião.

Por David Stephen
03/02/2019




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